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Eu sou uma imagem Política

(Discurso/performance  apresentado no Loose Hole Festival de Performance queer - Lisboa)

​

Meu corpo é meu espaço de trabalho, minha sexualidade é meu manifesto. Nem homem, nem mulher. Transito livremente entre o masculino e feminino. Eu sou uma imagem política, e nao quero que ninguém me represente. Mas me reconheço em alguns, em vários, e aqui no encontramos neste espaço que é pensar juntos sobre a mesma coisa. De agir pela diversidade de olhares e opiniões. Ouvir. Acolher. Navegar contra intolerância. Contra apenas um modo de viver em sociedade.
Meu corpo não é periferia. É meu centro. Nos deslocam para fora deste centro nos nomeando como: Paneleiros, Bichas, sapatões, maricas, caminhonas, viado, puta, preto, miches, desempregados, chinocas, pais, mães, travestis, transsexuais, drag queens, bonecas, cross dresser... inúmeros adjetivos que tentam nos definir. Nos localizando em algum lugar por entre os espaços da cidade, fora da legitimação destas escolhas de vida. Eu sou tudo isso.
Categorizam nossos estilos de vida, nosso corpos, orientação sexual, espaços de trânsito, tendências de consumo... Eu não sou uma peça deste jogo.
A política atual tenta controlar meu corpo, impor limites, fazer de mim estatística, números protocolados, registros, pivô de um sistema que é excludente. Me misturam em quadros organogramáticos, nos localizam na periferia desta esfera social, e eu, e nós nos mesclamos, espalhados entre as ruas, bares, hospitais, discotecas, becos, clínicas, figuras públicas e políticas, anônimos, pelas praças... somos cidadãos, artistas, produtores, proletários, trabalhadores sexuais, desempregados. Somos a multidão, o organismo de potência  pulsante e independente.
É necessário uma revolução, que começa por dentro, nas bases, implosiva para transformar a constituição separatista. Metarmofosiar o binarismo, o regime da cultura castradora católica e patriarcal. De reformular a estrutura da sociedade contemporânea Ocidental como algo livre, por que não é, cada vez mais há uma ordem de controle gerindo esta liberdade. O estado não me move. Eu sou o gerador de seu movimento. Preciso de uma Revolução de afetos, de abrir este espaço para ser o que vier eu a ser, de atravessar barreiras capitalistas do lugar privado, protegido, supervisionado.
Ser artista, não separa de ser quem eu sou. E me levanto todos os dias por amor. Que é o que me faz estar aqui, indefinível por que este lugar não é meu. Estas palavras não são apenas minhas. Estou aqui junto com tantos outros que também me acompanham para gerarmos neste encontro o nascimento e cultivo de questões , que entre todas elas diversas, possam articular e construir caminhos para que a pluralidade seja a direção singular.
Estou aqui hoje por um ato artístico, pelo ofício que desenvolvo dia à dia em ser artista. Em aperfeiçoar esta ferramenta para minhas ações. Eu sou uma imagem política. Minha ação e meu ofício é atravessar lugares, e não se faz para este sistema hegemônico, nem se encaixa nas políticas culturais inseridas no mercado capitalista. Temos de retirar a arte do seio do objeto souvernir. De reformular a razão que move o anseio artístico, de recriar lugares longe do comodismo de quem governa em cadeiras confortáveis e com as gavetas cheias de vermes. O estado não é meu motor de criação, seu funcionamento é contrário ao meu. O estado não me representa e não me convence com suas políticas assimilacionista de legitimar direitos pela opção sexual que tenho, ou pelo discurso artístico que levanto. Eu não me encaixo nesta ética.
Eu sou qualquer um, e não estou aqui para representar ninguém, não sou masculino, tão pouco feminino. Sou o trânsito, o bêbado, o drogado, o boêmio, o anarquista, o punk, a drag, a bicha, a puta. Eu sou aquele pelo nome que peço que me chamem. Eu sou a metamorfose incómoda, me reconstruo sempre e todo os dias a cada encontro com o outro, para nao cair no comodismo à procura de uma estabilidade filosófica, heteronormativa, monogâmica, patriarcal, sexista. Eu recrio minha masculinidade, eu sou a imagem erótica assexuada, o indivíduo desejante.
Meu corpo nasceu em conflito com esta ordem social capitalista, em guerras diárias em transgredir aquilo que me impuseram ser pelo sexo que tenho. Devemos criar um espaço onde é possível desejar, de colocar nossos corpos em rebeldia.
Pensar em arte queer, é ampliar o olhar para um discurso que ataca a arte institucionalizada, padrão, como um bem cultural estatal, como acessório para o entretenimento. Somos a multidão diversa e plural.  Não quero um espetáculo de coreografia de gestos iguais, somos um coro de vozes distoantes, de intensidade verborrágica, de movimentos desuniformes.
Eu sou uma figura política, repito. Imigrante neste país, afrodescendente, gay, tenho a arte como meu ofício, e como artista sinto no corpo o colapso da administração deste governo, e de outros, e de muitos que não favorecem espaço ao pensamento artístico, às questões estéticas, ao artista como gerador de novas perspecitvas, pelo olhar acído, cítrico, cruel, sublime e incerto sobre a sociedade contemporânea. Não estamos a criar ficções, nem a fantasiar lugares. Estamos a torná-los visíveis, trazemos o lixo e o luxo frente aos olhos daqueles que com esta partilha de subjetividades, de pensamento  e forma possa também continuar a questionar em conjunto o que juntos estamos vivendo e pensando.
A escassez de dinheiro, a deficiência da manutenção das estruturas artísticas, do acesso ao espaço privado de museus e teatros, da falta de um ministério excluído por uma crise financeira que não é nossa, não faz o artista parar. Eu não reconheço a fronteira.  E nao sou a favor da construção de fronteiras, da defesa de territórios, de limites de ação.
Se a pergunta é onde me encaixo, where do I fit? Responderia que em qualquer buraco, canto, via, aglomeração, ou ainda, em nenhum lugar definido, eu transito.
Desejo a criação de uma comunidade artística participativa, compartilhada. Do processo de criação como motivo de encontro para o intercâmbio de experiencias, troca de referências, sem a denominação de pertencer a um grupo tal ou a uma companhia tal. Eu insisto na colaboração, e não na reconstrução de espaços de defesa para a organização de grupos de artistas. Da seleção de projetos para subvenções estatais, com suas regras e propostas detalhadas de resultado.  Eu exijo a interferência, a troca, porque a criação não se estabelece na obra artistica finalizada (e talvez não exista uma obra artística finalizada), a obra final, dada como fim, tranformada em mercadoria,  só vem a fortalecer o discurso mercadológico da arte no capitalismo, nas engrenagens desta administração falida. Prefiro uma obra sempre em ruínas.
Pensar em cultura, em políticas que gerem capacidade de ampliar sua intensidade e potencia de ação e o olhar crítico de cidadãos desfavorece o controle do Sistema, enfraquecendo o discurso dos representantes do poder estatal.
A mim, trazer potencia à arte queer é ampliar o movimento de resistência, queer é a resistência.  Queer não é só a criação de imagens, não é um genero entre tantas categorias, chamo queer o fortalecimento de uma posição que traz o corpo em conflito com o poder vigente. Queer é a arma transgressora que abala as normas e regras controladora sobre nossos corpos, de desmantelar as estruturas de privilégio e poder.
Eu quanto artista e interessado nas questões queers, na produção e criação de processos artísticos, na arte contemporânea sou um indivíduo errante. Mas ainda assim, tento praticar minha criação como espaço partilhado, sem denominar autores, mas identificar sua importância ao contribuir sua participação na minha iniciativa artística. De poder compartilhar este momento, estas palavras. De convidar a esta tempestade.
Meu corpo é meu espaço de trabalho, minha sexualidade é meu manifesto. Nem homem, nem mulher. Transito livremente entre o masculino e feminino. Eu sou uma imagem política, e nao quero que ninguém me represente. Mas me reconheço em alguns, em vários, e aqui no encontramos neste espaço que é pensar juntos sobre a mesma coisa. De agir pela diversidade de olhares e opiniões. Ouvir. Acolher. Navegar contra intolerância. Contra apenas um modo de viver em sociedade.
Meu corpo não é periferia. É meu centro. Nos deslocam para fora deste centro nos nomeando como: Paneleiros, Bichas, sapatões, maricas, caminhonas, viado, puta, preto, miches, desempregados, chinocas, pais, mães, travestis, transsexuais, drag queens, bonecas, cross dresser... inúmeros adjetivos que tentam nos definir. Nos localizando em algum lugar por entre os espaços da cidade, fora da legitimação destas escolhas de vida. Eu sou tudo isso.
Categorizam nossos estilos de vida, nosso corpos, orientação sexual, espaços de trânsito, tendências de consumo... Eu não sou uma peça deste jogo.
A política atual tenta controlar meu corpo, impor limites, fazer de mim estatística, números protocolados, registros, pivô de um sistema que é excludente. Me misturam em quadros organogramáticos, nos localizam na periferia desta esfera social, e eu, e nós nos mesclamos, espalhados entre as ruas, bares, hospitais, discotecas, becos, clínicas, figuras públicas e políticas, anônimos, pelas praças... somos cidadãos, artistas, produtores, proletários, trabalhadores sexuais, desempregados. Somos a multidão, o organismo de potência  pulsante e independente.
É necessário uma revolução, que começa por dentro, nas bases, implosiva para transformar a constituição separatista. Metarmofosiar o binarismo, o regime da cultura castradora católica e patriarcal. De reformular a estrutura da sociedade contemporânea Ocidental como algo livre, por que não é, cada vez mais há uma ordem de controle gerindo esta liberdade. O estado não me move. Eu sou o gerador de seu movimento. Preciso de uma Revolução de afetos, de abrir este espaço para ser o que vier eu a ser, de atravessar barreiras capitalistas do lugar privado, protegido, supervisionado.
Ser artista, não separa de ser quem eu sou. E me levanto todos os dias por amor. Que é o que me faz estar aqui, indefinível por que este lugar não é meu. Estas palavras não são apenas minhas. Estou aqui junto com tantos outros que também me acompanham para gerarmos neste encontro o nascimento e cultivo de questões , que entre todas elas diversas, possam articular e construir caminhos para que a pluralidade seja a direção singular.
Estou aqui hoje por um ato artístico, pelo ofício que desenvolvo dia à dia em ser artista. Em aperfeiçoar esta ferramenta para minhas ações. Eu sou uma imagem política. Minha ação e meu ofício é atravessar lugares, e não se faz para este sistema hegemônico, nem se encaixa nas políticas culturais inseridas no mercado capitalista. Temos de retirar a arte do seio do objeto souvernir. De reformular a razão que move o anseio artístico, de recriar lugares longe do comodismo de quem governa em cadeiras confortáveis e com as gavetas cheias de vermes. O estado não é meu motor de criação, seu funcionamento é contrário ao meu. O estado não me representa e não me convence com suas políticas assimilacionista de legitimar direitos pela opção sexual que tenho, ou pelo discurso artístico que levanto. Eu não me encaixo nesta ética.
Eu sou qualquer um, e aqui não represento ninguém, não sou masculino, tão pouco feminino. Sou o trânsito, o bêbado, o drogado, o boêmio, o anarquista, o punk, a drag, a bicha, a puta. Eu sou aquele pelo nome que peço que me chamem. Eu sou a metamorfose incómoda, me reconstruo sempre e todo os dias a cada encontro com o outro, para nao cair no comodismo à procura de uma estabilidade filosófica, heteronormativa, monogâmica, patriarcal, sexista. Eu recrio minha masculinidade, eu sou a imagem erótica assexuada, o indivíduo desejante.
Meu corpo nasceu em conflito com esta ordem social capitalista, em guerras diárias em transgredir aquilo que me impuseram ser pelo sexo que tenho. Devemos criar um espaço onde é possível desejar, de colocar nossos corpos em rebeldia.
Pensar em arte queer, é ampliar o olhar para um discurso que ataca a arte institucionalizada, padrão, como um bem cultural estatal, como acessório para o entretenimento. Somos a multidão diversa e plural.  Não quero um espetáculo de coreografia de gestos iguais, somos um coro de vozes distoantes, de intensidade verborrágica, de movimentos desuniformes.
Eu sou uma figura política, repito. Imigrante neste país, afrodescendente, gay, tenho a arte como meu ofício, e como artista sinto no corpo o colapso da administração deste governo, e de outros, e de muitos que não favorecem espaço ao pensamento artístico, às questões estéticas, ao artista como gerador de novas perspecitvas, pelo olhar acído, cítrico, cruel, sublime e incerto sobre a sociedade contemporânea. Não estamos a criar ficções, nem a fantasiar lugares. Estamos a torná-los visíveis, trazemos o lixo e o luxo frente aos olhos daqueles que com esta partilha de subjetividades, de pensamento  e forma possa também continuar a questionar em conjunto o que juntos estamos vivendo e pensando.
A escassez de dinheiro, a deficiência da manutenção das estruturas artísticas, do acesso ao espaço privado de museus e teatros, de um ministério excluído por uma crise financeira que não é nossa, não faz o artista parar. Eu não reconheço a fronteira.  E nao sou a favor da construção de fronteiras, da defesa de territórios, de limites de ação.
Se a pergunta é onde me encaixo, responderia que em qualquer buraco, canto, via, aglomeração, ou ainda, em nenhum lugar definido, eu transito.
Desejo a criação de uma comunidade artística participativa, de atividade compartilhada. Do processo de criação como motivo de encontro para o intercâmbio de experiencias, troca de referências. Estamos todos a pensar.
Sem a recriação do espaço privado para a elaboração do discurso e do trbalho em artes. Eu insisto na colaboração, e não na reconstrução de espaços de defesa para a organização de grupos de artistas. Da seleção de projetos para subvenções estatais, com suas regras e propostas detalhadas de resultado. Arte é conhecimento. Eu exijo a interferência, a troca, porque a criação não se estabelece na obra artistica finalizada (e talvez não exista uma obra artística finalizada), a obra finalizada, dada como fim, tranformada em mercadoria,  como entretenimento para determinadas classes, ou de um circuito intelectual elitista, só vem a fortalecer o discurso mercadológico da arte no capitalismo, nas engrenagens desta administração falida. Prefiro uma obra sempre em ruínas. 
Pensar em cultura, em políticas que gerem capacidade de ampliar sua intensidade e potencia de ação e o olhar crítico de cidadãos desfavorece o controle do Sistema, enfraquecendo o discurso dos representantes do poder estatal.
A mim, trazer potencia à arte queer é ampliar o movimento de resistência, queer é a resistência.  Queer não é só a criação de imagens, não é um genero entre tantas categorias, chamo queer o fortalecimento de uma posição que traz o corpo em conflito com o poder vigente. Queer é a arma transgressora que abala as normas e regras controladora sobre nossos corpos, de desmantelar as estruturas de privilégio e poder. Necessitamos usar esta posição para instigar rupturas, não só destas políticas de assimilação, mas do capitalismo em si mesmo.
Eu quanto artista e interessado nas questões queers, na produção e criação de processos artísticos, na arte contemporânea sou um indivíduo errante. Mas ainda assim, tento praticar minha criação como espaço partilhado, sem denominar autores, mas identificar sua importância ao contribuir sua participação na minha iniciativa artística. De poder compartilhar este momento, estas palavras. De convidar a esta tempestade. De incitar ao orgasmo.

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